quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

13 meses - Quem se adapta?

Oi, filho.

Aquele dia chegou. Era uma segunda--feira, início de fevereiro, o ano letivo começava, o meu ritmo de trabalho precisava ser retomado e você precisava ir pra creche. 
Passei a manhã tensa, organizando suas coisas, colocando em prática novas rotinas, novos horários. E o coração apertando...
A escola recomenda um período de adaptação de três dias, com horário reduzido. A mãe entra junto com o bebê para que ele vá se ambientando, conhecendo o espaço e as pessoas de forma segura e tranquila. Até aí, ótimo. Várias salas coloridas, cheias de brinquedos, estímulos coloridos e espelhos, que você adora, e a mamãe ali no cantinho. Saí de perto algumas vezes, para ver como você reagia e estava bem à vontade, explorando tudo, interagindo com os outros bebês, mas bastavam alguns minutos pra você olhar em volta à minha procura e pedir colo. Assim fizemos nos três dias que se seguiram e você já chegava na porta da escola nervoso e me abraçando com força.
No quarto dia, você subiu e eu fiquei. Não tão simples assim. A responsável pelo berçário veio, tentou te pegar do meu colo, sem sucesso. Pediu que eu te colocasse no chão e com um brinquedinho na mão, te chamou. Você foi até o brinquedo e quando ela te pegou no colo e te afastou de mim, você chorou desesperadamente.
Muitas coisas passaram na minha cabeça nesse momento. Em alguns segundos, revivi tudo de bom e ruim que passamos nesse ano todo, busquei nossos momentos felizes e amorosos, desejando com toda força do meu coração que fossem maiores e mais importantes do que aquela dor que estava te causando naquele instante. Você subiu e eu chorei. Ali mesmo na secretaria da escola, ainda pensando se deveria subir correndo e te trazer de volta ou esperar que alguém descesse e me dissesse que estava tudo bem e que ficasse tranquila. Tentei ser racional e ali fiquei esperando. Passado o período ainda de adaptação, você veio, lindo e cheiroso direto pro meu colo e fomos pra casa.
Cumprimos a nossa nova rotina diária e você foi dormir. E eu também, rezando pra que essa fase de adaptação passasse logo e você fosse feliz pra escola como todo mundo havia me dito que aconteceria em breve. Pedi a Deus que no dia seguinte você não chorasse mais. 
E você acordou no meio da noite, vomitando e com febre. Passando mal como eu e seu pai ainda não tínhamos visto nesse ano de vida. 
"Será que comeu alguma coisa que fez mal?"  
"Será que pegou alguma virose no primeiro contato direto com tantas outras crianças?"
"Será que tá sentido?"
"Será que devemos continuar a adaptação?"
"Adaptação?"

Quem se adapta a ver o bebezinho chorando, sofrido, querendo seu colo, sendo levado embora?

Bem que podia ser mais fácil. Você ficou os próximos dois dias com febre e recusando qualquer comida. Sorte mesmo que o mamá você nunca recusa...
Depois disso veio o feriado de Carnaval e a adaptação foi pro brejo. Agora vamos começar tudo de novo. E haja coração. 

Sabe, Rafa, antes mesmo de você nascer a gente já tinha que fazer escolhas sobre sua vida o tempo todo. E tudo que a gente escolhe, é sempre pensando no seu bem-estar. Às vezes é fácil, outras é complicado pra caramba. A gente se pergunta o tempo todo se tá fazendo certo, repensa tudo de novo e reza pra ter escolhido o melhor caminho. Eu passei uma semana péssima, triste, chorando, me questionando se estava certo fazer você passar por isso. Sinceramente, ainda não tenho a resposta. Tenho tido apoio de gente querida, que me escuta, que me entende. E quero acreditar no que dizem, que vai passar, que daqui a pouco você vai subir feliz e sequer olhar pra trás. Tomara que seja logo. 

Te amo, meu amor.