segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Nossos exemplos

Oi, filho!



Já tem um tempinho que ensinamos a você sobre os sinais de trânsito. Você já aprendeu que quando está vermelho devemos parar e quando verde devemos seguir. E depois disso toma conta da nossa direção, prestando atenção se estamos seguindo corretamente as leis de trânsito. A gente se diverte e se policia pra não avançar o sinal, claro. 

Eu tenho refletido sobre nossos exemplos, sobre como influenciamos seu comportamento, sua fala, sua visão do mundo. E me assusto. É realmente assustador pensar em toda essa responsabilidade que temos na sua formação. 

Quando as pessoas dizem que os filhos nos tornam pessoas melhores, deve ser por isso. Filhos exigem o melhor de nós. E é preciso um esforço diário pra superar as fraquezas, pra corrigir nossos erros, pra oferecer nada menos que o nosso melhor, tudo isso sem perder a sanidade. Nem sempre tenho conseguido. Mas sigo tentando.

Nosso exemplo está na berlinda o tempo todo. Das coisas mais simples até as mais complexas. Alimentação, preconceito, gentileza, palavrões, gratidão, tolerância, carinho, certo e errado o tempo todo. E tantas outras coisas. Mas nós não somos perfeitos. Erramos. E eu queria te ensinar isso também, meu amor. Quero poder te mostrar que tudo bem falhar no percurso. A gente se arrepende, pede desculpas e tenta muito não fazer novamente. 

Há algumas semanas atrás estávamos no carro e seu pai avançou o sinal vermelho. E você, como sempre, estava atento:

- Papai, por que você andou se o sinal estava vermelho?
- Eu me distraí, filho. 
- Papai, isso é muito feio, não pode andar quando está vermelho. (nervoso)
- Desculpa, filhão, agora vou prestar atenção.
- Não faz mais, tá, papai?
- Pode deixar.

(pausa)

- Papai, desculpa porque eu briguei com você, eu estava irritado.

...

Ficamos em silêncio por alguns minutos no carro. 
Eu tive noção do tamanho da influência do meu discurso no seu comportamento.
Sim, esse é o MEU discurso, naquele momento de estresse em que passo do limite, me descontrolo com você e depois me arrependo. Esse discurso que você aprendeu e repetiu com seu pai. 
Senti uma pontinha de orgulho de ver que você já entendeu a condição falha das pessoas. De alguma forma, já compreendeu um pouquinho, que seja, da dinâmica das relações humanas. 
E mais importante de tudo: já sabe que, mesmo me esforçando o tempo todo pra te oferecer o meu melhor, mesmo me dedicando intensamente a essa função exaustiva e gratificante de formar um ser humano, mesmo tentando ser o melhor exemplo, às vezes erro. Me arrependo e tento consertar. 
E seguimos assim, sempre nos perdoando. 
Porque o melhor exemplo mesmo é o amor.

Obrigada, Rafa. Te amo.