terça-feira, 29 de julho de 2014

Carta da Dindinha






Rafael,

 Sua mãe e eu nos conhecemos em 2001. Um ano após o "fim do mundo". Sim, todos acreditavam que o mundo acabaria no ano 2000. Para nossa sorte isso não aconteceu. Sua mãe começou a trabalhar onde eu já trabalhava, no CCAA Belford Roxo, que hoje não existe mais. Preciso confessar que no início eu meio que "torcia o nariz" para ela. Não entendia bem o que ela estava fazendo ali. Você acredita Rafa, que ela ficava observando enquanto eu fazia o meu trabalho? Eu ficava brava quando ela me dizia para falar com o Cristiano, do CCAA Laranjeiras, quando eu tinha alguma dúvida. Pois é, o seu pai já existia... 

Mas, com o passar do tempo, Rafa, a nossa amizade foi só crescendo e sua mãe foi se tornando cada vez mais necessária na minha vida. Seu pai, no início, achava que eu não era boa companhia para a sua mãe. Mas logo isso passou também. 

Milhões de coisas aconteceram. Coisas boas e coisas ruins. Até o dia que tudo mudou. Saímos de Belford Roxo e sua mãe se tornou a dona do CCAA Del Castilho. E lá fui eu. Junto com ela. Nossa amizade só se fortaleceu e passamos a ter certeza que era pra sempre. 
Seus pais se casaram em uma cerimônia linda. Chorei do início ao fim. E ali se formou a sua família. 

Seus pais sempre foram o meu porto seguro. Quando eu ficava triste era por eles que eu procurava. E eles lamentavam comigo. Quando eu ficava feliz era por seus pais que eu procurava. E eles comemoravam comigo. Para que você possa entender melhor: sua mãe abriu mão do meu trabalho ao lado dela para que eu pudesse crescer na minha careira e mudasse de emprego. Seus pais, Rafa, sempre foram aqueles com quem eu sempre pude contar. 

E assim, no meio de tanta amizade, sua mãe me deu a notícia: estava grávida. Fui a primeira, a saber, sabia? Antes mesmo do seu pai. Preciso te confessar que fiquei sem chão. Como eu, pessoa ciumenta (você vai perceber isso jajá!), poderia lidar com a gravidez da minha melhor amiga? Como eu iria dividi-la com o filho, que certamente ela amaria muito mais do me amava? 

E mais uma vez a nossa amizade prevaleceu e eu passei a curtir a gravidez da sua mãe. Passei a curtir, cada vez mais, a vida que crescia. Curti os momentos. Fiquei imensamente feliz ao saber que era um menino, muito embora tivesse sonhado que era uma menina... 
E chegou o dia, Rafa. O dia em que você nasceu. E eu estava lá. Ao lado dos seus pais. Falei com a sua mãe antes de você nascer. Ela estava angustiada. Nervosa. E você nasceu. Entrou no berçário no colo do seu pai. Eu não chorei. Você era um menino lindo. Uma benção de Deus. Visitei seus pais no quarto da maternidade e a sua mãe me perguntou: "Ele é lindo?" E eu só respondi: "É amiga. Ele é lindo!" 

Eu recebia da sua mãe fotos diárias. Duas semanas depois eu fui te visitar na sua casa. E, sim, você era lindo. E eu já te amava da mesma forma que amava seus pais. 
Na minha terceira visita veio a surpresa: seus pais me convidaram para ser sua madrinha. Olha isso, Rafa: sua madrinha! E eu não soube nem expressar meu agradecimento e minha felicidade. Claro que eu aceitei. Claro que eu queria ser sua madrinha. Esse foi o maior gesto de amor de que seus pais poderiam ter comigo. Entregar a mim o amor vida deles: você! Isso foi hoje. E até agora, 3h depois, ainda não consegui parar de tremer. Estou sentindo a felicidade transbordar. Não esta cabendo em mim... 

Rafa, tenha certeza que eu te amo muito e que estarei ao seu lado para sempre. Tenha certeza que você é um menino que foi muito esperado e muito celebrado. Quero que Deus esteja presente na sua vida, te guiando e abençoando a cada dia. Você faz parte da minha vida e a fará muito mais feliz! 

Vou aproveitar para te pedir para agradecer aos seus pais por confiarem em mim para esta missão. Diga a eles que farei o impossível para mostrar a você um mundo de amor: amor a Deus, amor à família, amor ao próximo... 

Eu te amo, Rafa. Desde sempre. Para sempre!
Sua madrinha,

 Juliana.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

6 meses - Ah! Esses olhos...




Oi, filho!


Parece que me distraí um pouco e de repente: 6 meses!
Olho pra trás e morro de orgulho de tudo que vivemos até agora.
Você tá super crescido, experimenta uma conquista nova a cada dia e fica cada dia mais lindo. Seis meses, quase nove quilos de pura gostosura, sem frutinha, sem suquinho, sem chá, sem água, sem mamadeira... só o nosso leitinho, seis meses de aleitamento materno exclusivo. Que delícia...

A vida mudou completamente, não saímos mais para os mesmos lugares, estamos quase sempre cansados e a casa, antes sempre arrumada, não tem mais nada no lugar.
Ainda assim, mesmo diferente, cansada, bagunçada, nossa vida fica cada vez mais preenchida de amor. Mesmo tendo meio ano se passado, ainda me surpreendo ao olhar pra você. Olho e penso...: "Como fui capaz?" E você sempre nos recompensa com um olhar.

Você tem os olhos mais expressivos que já vi...
É como se conseguisse falar tudo que precisa só olhando pra gente. Um olhar pra cada coisa... um olhar quando tá feliz, um olhar com biquinho quando vai chorar, olhinhos quase fechando quando tá com sono, um olhar curioso agora atento à tudo em sua volta sempre seguido de uma mãozinha que tenta pegar o que vê pela frente, um olhar delicioso enquanto mama e segura minha mão, um olhar que me procura em meio a outras pessoas e me aperta o coração de tanto amor, um olhar que se ilumina quando vê seu pai chegando, e também olhos apertadinhos quando dá gargalhadas.

É quase sempre quando o cansaço toma conta de mim, quando meia horinha a mais de sono parece um sonho impossível, quando acho que não vou dar conta, é nessa hora que você me olha, com o olhar mais apaixonado do mundo e zera tudo.
Não tem como... não dá... aqui no nosso mundinho, nós três juntos, não tem estresse, não tem intriga, não tem indiferença, frieza ou grosseria do mundo lá fora que me incomodem... Não adianta... só vejo esses olhinhos.
E são só seis meses...
Um beijo, filho.




quarta-feira, 9 de julho de 2014

A vida segue, né?






Oi, filho!

Essa semana saí de carro sozinha com você.
Dirigir sempre foi algo muito corriqueiro pra mim, aprendi a duras penas a não ter medo e sempre andei de carro pra lá e pra cá.
Mas quando você nasceu o mundo parou. Parecia que a gente nunca mais ia sair de casa. Vivemos profundamente seus primeiros momentos e isso nos bastava.
Aos poucos, a gente começou a lembrar que tinha um mundo lá fora que você precisava conhecer.
Então, começamos a sair pra passear, seu pai sempre dirigindo e eu atrás, com você, do ladinho da sua cadeirinha. Vamos cantando, conversando, mexendo com seus brinquedinhos e você gosta muito, quase sempre adormece no caminho.
O tempo foi passando, a poeira abaixando, você ficando cada dia mais lindo e esperto. E de repente, a vida ao redor começa a chamar.
Tudo pronto pra voltar a trabalhar e carregar você comigo.  Sim, porque  a amamentação em livre demanda (e o meu coração apertado) ainda não permite nossa separação, mesmo que seja por algumas horas.
Então, eu fui. Primeiro a gente tinha caronas de seus avós e de gente querida que vinha nos buscar em casa. Depois chamava um táxi e rapidinho a gente chegava.
Até que chegou o dia em que seu pai me disse: "Amanhã, como você precisa ir ao banco antes do trabalho, fica com o carro pra agilizar." Fiquei tensa. Ainda não tinha pensado nessa possibilidade. Parece uma bobagem, mas várias coisas me vieram à cabeça. Como ele vai sozinho atrás, com essa cadeirinha que fica de costas pra mim? E se ele começar a chorar no caminho? E se alguma coisa me acontecer? 
Mas enfim, a vida segue. Seu pai me acalmou e me incentivou.
Acordamos, seguimos nossa rotina diária, nos aprontamos, rezei e fui.
Você atrás, de costas pra mim, apenas ouvindo minha voz. Fomos conversando o tempo todo, cantando nossas músicas e logo chegamos.
O trânsito da nossa cidade, sempre muito familiar pra mim, de repente parecia uma selva. Na verdade, depois que a gente vira mãe, coisas muito simples e corriqueiras tornam-se assustadoras. É preciso coragem pra seguir a vida com a responsabilidade de cuidar de outra vida. E tive orgulho de nós dois por isso. De você por ter se comportado e facilitado esse momento pra mim. E de mim, por dar conta desse momento, dando mais um passo de tantos outros que ainda virão, com você comigo.
Que Deus me ajude.
Te amo, filho.