quarta-feira, 1 de agosto de 2018

E o desmame?

Oi, filho.

Não sei por onde começar.
Pela primeira vez, depois de todo esse tempo escrevendo cartas pra você, não consigo colocar em palavras todos esses sentimentos transbordando aqui dentro de mim.

Essa carta conta a história do seu desmame. Um desmame espontâneo, lento, gradual e feliz. O fim de uma história linda, que mudou a minha vida e que vai me trazer memórias de amor pra sempre.

Quatro anos se passaram desde aquele primeiro momento em que você veio pro meu colo, a enfermeira tentou me ajudar a te colocar no peito pra mamar....e nada aconteceu. Muitas tentativas. Vários ângulos, todas as posições possíveis, o colostro escorrendo...e nada. Não tinha jeito de fazer você mamar no meu peito.

"Fica tranquila, mãezinha. É assim mesmo, daqui a pouco ele pega. Vou pedir ao pessoal do berçário pra mandar um NANZINHO pra ele."

Um frio na barriga, medo, insegurança. Não foi assim que planejamos.
Mas na verdade, nada de novo aconteceu. Aquela velha rotina das maternidades privadas...
A enfermeira pediu pra comprar um bico intermediário.
O pediatra disse que eu não conseguiria mesmo: "Toma aqui a receita do NAN. Daqui a pouco seu peito seca e isso não é o fim do mundo."

Sabe, filho... A nossa linda história de amamentação só começou mesmo, depois de um pediatra e uma fono especialistas. Em amamentação e em acolhimento. Sim, eles fizeram essa história acontecer. E claro, depois de muita persistência minha e do seu pai.

Depois de muita dificuldade superada, amamentar você se tornou um momento incomparável pra mim. Acho que nunca tinha vivido nada tão especial assim.

Os meses foram passando e eu ficava maravilhada de ver como você crescia e se desenvolvia se alimentando de mim.

Eu me descobri mãe amamentando você.

Eu entendi esse amor louco quando te tinha no meu peito, calmo, sereno, feliz, me olhando apaixonadamente.

Eu sabia que seria capaz de qualquer coisa por você quando senti sono e um cansaço absurdos, vontade de desistir no meio da noite, mas segui em frente e esquecia tudo quando sentia sua mãozinha me acariciando enquanto mamava.

Conforme você crescia, as fases iam mudando. Com o tempo já caminhava na minha direção, já sabia o que queria, aprendeu a falar e pedia: "Qué mamá, fufavô!"

Mesmo depois que entrou na escola, brincava, se divertia e quando saía vinha correndo pro mamá, com fome e saudade.

Sim, mamar nunca foi só fome ou sede. Era sempre um acalento, uma saudade, uma conexão indescritível, um momento só nosso.

O tempo passou. Você cresceu e virou um garotinho inteligente, falante, observador, levado e que mamava. Muito.Sempre.
Ao longo desse tempo fizemos algumas combinações:
"Na hora da festa, não"
"Depois do passeio, tá?"
"Assim que a gente chegar em casa."

E assim a frequência foi diminuindo e você foi substituindo, aos poucos, o mamázinho por outros interesses. Até que às vésperas de completar 3 anos você dormiu uma noite inteira sem mamar pela primeira vez. Em pouco tempo amamentar você se resumia à hora de te colocar pra dormir e pela manhã quando acordava, apenas.

Seu aniversário de 4 anos se aproximava. Mamar no peito com essa idade ainda causa estranheza em muita gente. E você tinha uma resposta pronta pra todas as pessoas que perguntavam até quando você ia mamar: "Quando eu tiver 4 anos!"

Certamente, você não tinha noção do tempo, mas mesmo assim se colocou esse limite e achou que daí em diante já estava seguro pra dar esse passo.

No fundo do meu coração, eu sabia que esse momento estava chegando e que em breve, esse garotinho que você se tornou, estaria prontinho pra se despedir da vida de neném e seguir cada dia mais levado, independente e esperto. Meu coração apertava de pensar, num misto de nostalgia e orgulho de tudo que vivemos juntos.

Nos dias que antecederam seu aniversário, vivi intensamente cada momento te amamentando. Cada vez como se fosse a última, involuntariamente, fazia uma retrospectiva mental e me emocionava. 
Eu sabia que era uma despedida, que tinha crescido, que não viveria mais aquele momento.

Chegou o dia. Você aproveitou muito, brincou, cantamos parabéns em casa mesmo. Enfim, 4 anos.
Seguimos nossa rotina da hora de dormir e deitamos juntos. Perguntei pra você se queria mamar pra dormir e você ficou pensativo. Depois de um tempo me disse que agora já tinha 4 anos e não mamava mais. Eu disse que tudo bem e nos abraçamos pra dormir. Foi bem demorado, mas você não quis mesmo mamar naquela noite e acabou dormindo. Quando notei que tinha adormecido, senti um nó na garganta. Te dei um beijinho e fui pra minha cama.

Nas noites que se seguiram, alternamos entre dormir mamando e dormir lendo histórias. Às vezes você voltava atrás e pedia pra mamar. E tudo bem. Mas eu sabia que tinha acabado. O desmame tinha mesmo chegado ao fim.

Aos poucos substituímos completamente o mamá pela historinha na hora de dormir. E eu sinceramente não lembro exatamente quando foi a última vez.
Mas ainda consigo fechar os olhos e sentir como era. 
Vou levar comigo pra sempre aquele olhar... Aquela sensação de ser o seu mundo, seu alimento. 
Sinto orgulho de tudo que vivemos. 
Gratidão ao seu pai por ter me apoiado incondicionalmente e me sustentado em todos os momentos em que pensei em desistir.
E principalmente a você, meu amor.
Por ter vivido comigo essa história linda.

Sigamos agora, mais crescidos, mais fortes, mais independentes e sobretudo, mais conectados do que nunca.

Te amo, meu filho.