sexta-feira, 3 de abril de 2020

Aqui dentro...

Oi filho.

Essa semana aquela vontade incontrolável de te escrever voltou. Aquela sensação das palavras transbordando aqui dentro me consumiu durante toda a semana.
O mundo parou. Tudo está de cabeça pra baixo e você, agora tão crescido, acompanha tudo e mostra pra gente um entendimento que a gente mal pode acreditar.
Tem sido difícil, eu sei. 
De repente voltamos a passar nossos dias juntos, mas nunca estivemos tão distantes. 
De repente temos todo o tempo do mundo, mas não temos tempo nenhum.
De repente a vida toda parou, mas aqui os dias correm sem serem suficientes. 
Vai passar, eu sei.
Mas por enquanto, todo esse confinamento que nos aproxima e nos afasta tem me mostrado o quanto você cresceu. O quanto entende dos nossos sentimentos. E o quanto tudo que fizemos até agora valeu a pena. 
Passamos os dias aqui fechados e sozinhos. Até que seu pai chegue em casa de tarde. 
Você tem se mostrado uma criança segura, autônoma e resiliente. 
Todos os dias enquanto me observa trabalhar intensamente e por longas horas você consegue entender nossos limites. Meus e seus. Me traz água. Me dá um beijinho. Me pede pra parar um pouco. Me chama.pra brincar. Brinca sozinho, vê TV, estuda e come. Participa das nossas ligações de vídeo, conta histórias e faz mil cabaninhas pela casa. Faz mil perguntas, presta atenção em nossas conversas e entende quase tudo.
Você cresceu e eu vi! Sim, eu estive aqui esse tempo todo olhando e vivendo com você todas as fases. E aquele bebezinho, que nós ensinamos a nomear e aceitar suas próprias  emoções, hoje senta do meu lado e me diz estar nervoso, me diz estar com medo de todos “morrermos de coronavírus” , me pede pra parar de assistir o noticiário pra não ficar pensando nisso toda hora e liga pra vovó e diz pra ela ficar em casa porque é perigoso sair na rua.  Aprendemos cedo que falar sobre os nossos sentimentos é importante e nos faz mais fortes. É quando encontramos acolhimento e entendemos como lidar com tudo que sentimos. 
Tem sido um aprendizado pra nós, eu sei.
Você morre de vontade de mim, bem aqui do meu lado.
E eu lido com a angústia de querer dar conta de tudo, em meio a tantas demandas.
Agora aqui, olhando você dormir tranquilamente, sinto um misto de sentimentos. Um alívio de ver você aqui, seguro e tranquilo. Uma tristeza de pensar em tantas crianças expostas e sozinhas. Uma saudade de ver você interagindo feliz com tantas pessoas queridas que estão agora longe de nós. Uma insegurança de pensar no que ainda pode vir. Um amor tão intenso que parece não caber dentro de mim. Uma felicidade de poder viver todo esse amor, meu, seu e do seu pai. Uma gratidão por ter vivido mais um dia. 
Vamos passar por tudo isso. 
Tudo isso tem um sentido diferente pra mim porque você existe. 
Vamos dar conta. 
E nos orgulharemos de nós mesmos.
Você é o amor da minha vida, Rafa.
Seu sorriso é a minha alegria.
Seu olhar é a minha inspiração.
Sua alegria é a minha força.

Te amo muito, meu amor !