terça-feira, 14 de julho de 2015

18 meses - Sobre o amor na madrugada

Oi, filho.

São 3h40 da manhã. 
Eu tinha engrenado quase quatro horas de sono seguidas quando ouvi seu chorinho. Fiquei ainda na dúvida se era no meu sonho ou de verdade. Abri um olho e vi você sentadinho no berço pelo monitor da babá eletrônica na cabeceira da minha cama. Um cansaço me domina. Os olhos pesam. Juntei minhas forças e levantei. Descabelada, cambaleando no escuro, desviando dos brinquedos espalhados... Fui até o seu quarto e como de costume você estendeu seus bracinhos pra mim assim que notou minha presença. Você tem essa capacidade de me achar na penumbra, de saber que estou chegando perto e me chamar com um choro sentido. Peguei você e você logo deitou sua cabeça no meu ombro, como num aconchego de alívio. Esperei um pouco pra ver se você pegaria no sono de novo e você logo choramingou: "mamá!"
Sentei na poltrona e botei você pra mamar. Estendi meus pés no apoio, deitei a cabeça pra trás, tentando achar uma posição recostada. Pensei no cansaço que não termina, tentei lembrar (sem sucesso) da última vez que dormi mais de quatro horas seguidas e logo me veio à cabeça uma lista de coisas que precisaria fazer no dia seguinte e que certamente não daria conta.
Pensei que deveria ter lavado o cabelo antes de dormir porque bem provavelmente não conseguiria fazê-lo antes de ir trabalhar.
Antes que um desespero tomasse conta de mim, você deu um longo suspiro, soltou o peito e de olhos já fechados pediu pra trocar de lado, balbuciando: "Ôto mamá."
Virei você de lado e já senti uma onda de amor pelo corpo. Olhei pra você mamando sereno, completamente aconchegado no meu colo e me lembrei do motivo pelo qual nunca desisti. Fiquei ali olhando sua respiração cadenciada com os goles de leitinho, suas mãozinhas relaxando aos poucos e o corpo se entregando ao sono devagarinho.
Desde que você nasceu vivemos momentos como esse durante a noite. Às vezes demora mais, com mais agitação, com febre ou fralda suja, outras é bem rapidinho, sem despertar muito. Mas todas as noites eu sinto esse amor que me invade. Sinto uma conexão absurda. Uma paz que recarrega minhas baterias e não deixa meu corpo se abater.
Naquela hora ali, meu amor, com você nos braços, senti como se existisse uma contagem regressiva. Nesse momento que olhei pra você aninhado no meu colo me perguntei quanto tempo mais você ainda caberia ali. Quanto tempo mais você seria pequeno o suficiente pra acordar de noite e querer um leitinho. Quanto tempo mais conseguiria sentir sua mãozinha pequena escorrendo pelas minhas costas enquanto o sono vai te amolecendo. Quanto tempo mais ia ouvir esses barulhinhos deliciosos que você faz quando mama ávido pelo leitinho. Quanto tempo mais veria seu olhar pra mim, seguro de que estava no melhor lugar do mundo. Quanto tempo ainda sentiria esse cheirinho de neném que fica na minha roupa depois de te embalar tanto tempo. Quanto tempo ainda desistiria de te colocar no berço e te levaria pra minha cama no meio da madrugada com a desculpa de facilitar as coisas mas com a vontade de dormir grudadinha em você...

Me fiz todas essas perguntas enquanto você já dormia pesadamente.
Esqueci o sono, o cansaço, o desespero e agradeci a Deus. Agradeci por viver tudo isso.  Agradeci por ter total consciência da efemeridade dessa fase e vivê-la com toda intensidade do meu coração, aproveitando cada segundo. Desejei que esses momentos ainda se repitam muitas vezes. Que você seja meu bebezinho ainda durante um bom tempo. E tive certeza que daqui a algum tempo meu cansaço será apenas uma doce recordação dos instantes de ternura que vivemos nas nossas madrugadas.
Obrigada, meu amor.
Te amo muito.