sábado, 22 de outubro de 2016

Ah, o tempo...







Oi, filho.

Eu tenho pensado em muitas coisas que queria deixar registrado pra você. Tenho tido uma enxurrada de pensamentos que me acompanham, por tantas coisas que tenho vivido nesses últimos meses e que geram uma ansiedade em mim quando olho pra você e reflito sobre tudo que ainda vai viver.

De todas essas coisas na minha cabeça, o que me é mais urgente pra te falar agora é: 
O TEMPO VOA, meu filho.
Os dias, as semanas, meses e anos passam rápido demais e um dia viram flashes na nossa memória, que trazem uma nostalgia, às vezes um aperto no peito de vontade de viver de novo e às vezes uma serenidade por ter aproveitado intensamente aquele momento.

Tenho observado que muitas vezes, principalmente quando passamos por algum momento turbulento na vida, tendemos a ficar presos nas lamentações e desejos de que tudo fosse mais fácil. Nessas horas, tem gente que fica amargurada, triste e é ai que se desperdiça tempo. Quando a gente vê já foi um mês, meio ano, quando a gente se dá conta um ano inteiro se passou e muitas oportunidades de alegrar-se se foram.

Desde que você nasceu, talvez eu tenha perdido tempo sofrendo demais com algumas adaptações da nossa vida, talvez eu tenha perdido oportunidades de ser feliz quando você era bem bebezinho e eu achava que meu cansaço nunca teria fim (ok, ainda não teve, mas tô super adaptada rsrs), talvez eu tenha exagerado... Mas no geral, sinto que tenho aproveitado muito nossos momentos. Tenho comigo essa sensação boa de viver e saber que estou vivendo, essa capacidade de mesmo no meio do furacão, dar um sorriso tranquilo por olhar você andando de bicicleta na pracinha e saber que aquele momento é feliz demais e que vamos morrer de saudade um dia. 


Se tem uma coisa que tenho aprendido com você é essa urgência de ser feliz agora, de não desperdiçar tempo nenhum. E é sobre isso que queria mesmo te falar nessa carta.

Queria te falar que mesmo quando as coisas não vão bem, é preciso seguir em frente, buscando motivos para alegrar-se. Há que rodear-se de pessoas queridas e não afastá-las. 
O tempo voa, Rafa, e a vida acaba um dia. Pra todo mundo. 

Que saibamos viver agora.

Obrigada por me ensinar tanto sobre o tempo nesses 2 anos e 9 meses.


Que não perca nunca essa sua vontade de aproveitar tudo agora. 

Que continue achando que dormir é um desperdício de tempo (embora não seja)

Que seu choro continue sendo facilmente substituído por um sorriso caso alguma novidade apareça.

Que a sua timidez continue durando apenas o primeiro momento até que se sinta à vontade para fazer de qualquer um seu amigo.

Que mantenha sempre essa vontade constante de estar perto das pessoas queridas da sua vida. 

Que essa curiosidade urgente sobre absolutamente tudo não termine nunca.

E que continue com essa inadiável vontade de abraçar a gente a todo instante, meu amor.


 Te amo.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Nossos exemplos

Oi, filho!



Já tem um tempinho que ensinamos a você sobre os sinais de trânsito. Você já aprendeu que quando está vermelho devemos parar e quando verde devemos seguir. E depois disso toma conta da nossa direção, prestando atenção se estamos seguindo corretamente as leis de trânsito. A gente se diverte e se policia pra não avançar o sinal, claro. 

Eu tenho refletido sobre nossos exemplos, sobre como influenciamos seu comportamento, sua fala, sua visão do mundo. E me assusto. É realmente assustador pensar em toda essa responsabilidade que temos na sua formação. 

Quando as pessoas dizem que os filhos nos tornam pessoas melhores, deve ser por isso. Filhos exigem o melhor de nós. E é preciso um esforço diário pra superar as fraquezas, pra corrigir nossos erros, pra oferecer nada menos que o nosso melhor, tudo isso sem perder a sanidade. Nem sempre tenho conseguido. Mas sigo tentando.

Nosso exemplo está na berlinda o tempo todo. Das coisas mais simples até as mais complexas. Alimentação, preconceito, gentileza, palavrões, gratidão, tolerância, carinho, certo e errado o tempo todo. E tantas outras coisas. Mas nós não somos perfeitos. Erramos. E eu queria te ensinar isso também, meu amor. Quero poder te mostrar que tudo bem falhar no percurso. A gente se arrepende, pede desculpas e tenta muito não fazer novamente. 

Há algumas semanas atrás estávamos no carro e seu pai avançou o sinal vermelho. E você, como sempre, estava atento:

- Papai, por que você andou se o sinal estava vermelho?
- Eu me distraí, filho. 
- Papai, isso é muito feio, não pode andar quando está vermelho. (nervoso)
- Desculpa, filhão, agora vou prestar atenção.
- Não faz mais, tá, papai?
- Pode deixar.

(pausa)

- Papai, desculpa porque eu briguei com você, eu estava irritado.

...

Ficamos em silêncio por alguns minutos no carro. 
Eu tive noção do tamanho da influência do meu discurso no seu comportamento.
Sim, esse é o MEU discurso, naquele momento de estresse em que passo do limite, me descontrolo com você e depois me arrependo. Esse discurso que você aprendeu e repetiu com seu pai. 
Senti uma pontinha de orgulho de ver que você já entendeu a condição falha das pessoas. De alguma forma, já compreendeu um pouquinho, que seja, da dinâmica das relações humanas. 
E mais importante de tudo: já sabe que, mesmo me esforçando o tempo todo pra te oferecer o meu melhor, mesmo me dedicando intensamente a essa função exaustiva e gratificante de formar um ser humano, mesmo tentando ser o melhor exemplo, às vezes erro. Me arrependo e tento consertar. 
E seguimos assim, sempre nos perdoando. 
Porque o melhor exemplo mesmo é o amor.

Obrigada, Rafa. Te amo. 






quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ninguém sabia...

Oi, filho.



Esses dias estive conversando com uma amiga muito querida que tem um bebê pequeno. Tivemos uma conversa bem franca, como a intimidade que temos nos permite, sobre o quanto estava cansada, sobre como se sentia com o fim da licença maternidade, sobre como tudo se transforma com a chegada de um bebê e sobre tantas questões complicadas na vida de uma mãe, principalmente de uma mãe de primeira viagem.

No meio de seu desabafo angustiado, ela me disse: "Eu não sabia que seria assim."
E essa frase martelou na minha cabeça essa semana e eu tive uma vontade de enorme de atravessar o telefone e abraçá-la demoradamente.

Sabe, filho, é por você que sinto o amor que jamais imaginei sentir na vida. O maior amor do mundo. Mas eu também não sabia que seria assim. Queria que essa minha amiga soubesse que ninguém sabia. Ninguém pode imaginar.

Por que as pessoas não falam sobre isso?
Por que fazemos tantas mães se sentirem mal ou culpadas por se acharem diferentes de todas as outras?
Muito se fala no amor incondicional, na plena realização, no sentimento mais bonito do mundo que surge quando temos um bebezinho como você no colo, meu amor...  Mas poucas pessoas têm a coragem de falar no outro lado. Pouco se ouve a respeito de como a maternidade afeta a vida da mulher na parte prática, é quase um segredo o fato de que mesmo que a gente conte com uma super rede de apoio, às vezes a gente se sente sozinha numa busca por quem a gente era antes. 

E isso, meu amor, nada tem a ver com esse amor louco que sinto por você, tampouco com a felicidade que sinto por ter tido a bênção de recebê-lo na minha vida.

A verdade é que depois dessa conversa com minha amiga, tive vontade de falar várias coisas pra ela... Porque a maternidade me ensinou também que podemos tornar as coisas um pouco mais fáceis, se soubermos que outras pessoas passam pelas mesmas situações e sentem da mesma forma e não somos assim tão diferentes.
Então, querida, saiba:
Sim, é um cansaço louco, sem fim.
Sim, dá a impressão de que não vamos dar conta.
Sim, seu corpo levou 9 meses crescendo e não volta ao que era antes em 6 meses. E é normal, não ter ânimo , nem força, nem vontade de pensar nisso agora.
Sim, é difícil conciliar a maternidade com trabalho. A gente fica dividida, se cobra pelas duas atribuições e se culpa por não dar conta.
Sim, é normal chorar. Tudo bem chorar, amiga. Alivia, desabafa, extravasa.
Sim, você e seu marido vão encontrar o caminho pra acertar tudo e fazer dar conta. No tempo de vocês. Tudo bem.
Sim, a gente jura que vai seguir várias teorias ótimas sobre criação dos filhos e na hora da verdade faz o que consegue, o que parece mais apropriado, o mais conveniente, e ok... Seguimos aprendendo.
E o mais importante:
Sim, vai passar. Vai passar, amiga.
As coisas vão se ajeitando, a gente entra no ritmo, a gente aprende um monte, cresce junto com eles. E é sensacional.
E quando olhar pra trás, vai morrer de orgulho de ter passado por tudo isso, por estar criando esse serzinho lindo, pela sua família e por ter se transformado numa pessoa melhor e mais forte.
E aquele amor incondicional do qual todos falam... Esse só cresce.
É bem assim que me sinto, Rafa, com você na minha vida. E sei que minha amiga vai sentir também. Logo, logo.

Te amo, filho.












quarta-feira, 20 de abril de 2016

Amizade


Oi, filho.

Você fala dormindo, às vezes, sabia? Algumas vezes grita coisas que não entendemos, outras, senta na cama e conversa. De olhos fechados mesmo. Normalmente não faço nada. Só paro e observo e você volta a dormir, sem problemas. 
Noite passada você sentou na cama e gritou: "Eu quero brincar com meus amigos!"
Eu e seu pai rimos, você ainda resmungou mais um pouco e voltou a dormir.

Você sempre foi um bebê sociável, sempre interagiu bem com outras crianças, mesmo antes de entrar na escola. Mas agora, com um círculo de amizades maior, com a convivência diária é mais bacana ainda de ver como você fica feliz com seus amigos por perto.

Sabe, filho, cultivar amizades é uma das coisas boas da vida. Amigos de verdade são pessoas que compartilham com a gente momentos bons e ruins e fazem a vida ficar mais leve. Eu quero muito que você aprenda a importância disso.

Nessa fase da vida em que você está a amizade é importante pra gente aprender um monte de coisa nova. Pra aprender a dividir, pra descobrir as diferenças, pra saber esperar a sua vez, pra observar comportamentos, pra compartilhar as descobertas. 
Todos os dias quando você chega da escola você me conta uma história nova de algum amigo. Alguém que levou um brinquedo diferente, que fez "graça" com a professora (como você diz), que dividiu o lanche, que chorou e tantas outras coisas. E as músicas? Do rock n'roll ao samba de Madureira, todo dia um aprendizado. Quase sempre as histórias são protagonizadas pelos amigos. E assim, você vem aprendendo, interagindo, observando, crescendo e sendo feliz com a sua turminha. 

Quando você crescer um pouco mais você vai ver que o contexto muda um pouco, mas a importância dos amigos continua. Você vai ter aqueles sempre por perto que te fazem sentir aceito, pertencente a um grupo, que descobrem juntos as novas fases e que fazem você continuar aprendendo.

Mais pra frente ainda, você vai ver que aqueles que ficam depois de todas essas fases, ficam pra sempre. Estão do seu lado e fazem parte da sua vida definitivamente. E é maravilhoso. 

Saiba, meu amor, que você vai sempre contar conosco, seus pais, mas que cultivar amigos ao longo da vida é essencial e vai te fazer muito bem. 
E eu fico muito orgulhosa de saber que desde já você tem aprendido isso. Conquistando amigos e aprendendo com eles. 

Tem um ditado que diz : "Quem meu filho beija, minha boca adoça." 
Eu já entendi bem o que ele significa. Morro de amores quando vejo aquele monte de criança linda com quem você convive todos os dias e que têm feito tão bem pro seu crescimento.

Te amo, filho.















sábado, 19 de março de 2016

Cadê o bebê que tava aqui?

Oi, meu amor.

Numa manhã dessa semana estava na cozinha fazendo um bolo pra você. Olhei pra você ali do meu lado, em pé na escadinha de três degraus: mãos na farinha, pega espátula, liga batedeira, quer abrir a torneira, quer encher a xícara, derrama farinha no chão, derruba o potinho de fermento... 

Olhei pra nós dois ali dividindo aquela tarefa e me lembrei de quando era um bebezinho de colo. Lembrei de quando eu mal conseguia ir ao banheiro porque nunca consegui deixar você chorando sozinho no berço. 

Pensei no quanto as coisas mudaram em dois anos (e dois meses).

Me dei conta de que, segunda a nomenclatura oficial, você já não é mais um bebê. É uma criança pequena, que me acorda com um sorriso todos os dias e me dá bom dia. Que escolhe com o que quer brincar, as músicas que quer ouvir e que inventa letras engraçadas pra melodias conhecidas. Uma criança que conversa, que conta como foi o dia, que fala no telefone e pede "manguinha" de sobremesa. Um menino engraçado, que pede pra falar com papai no FaceTime todas as manhãs, que sobe nas costas dele quando chega do trabalho e que pede pra ele jogar futebol, soltar bolinhas de sabão e tomar banho de chuva. E sim, uma criança que gosta de correr, de subir em tudo, de testar, de experimentar, de descobrir, de ver até onde pode ir. E eu tenho morrido de amores... 

Eu fico muito feliz de olhar pra trás e ver que vivi intensamente todas as fases até agora, que morri de cansaço, chorei e me desesperei várias vezes, mas tenho aqui comigo todas as lembranças desse bebê careca gorducho, pendurado no peito pra lá e pra cá. Tenho muito orgulho da gente, filho, da nossa história, de nós três, da nossa família. 

Quando a gente está no meio do furacão que é ter um bebezinho em casa, quando a gente se vê pela primeira vez com aquele neném que só para de chorar no peito, com mamadas a cada meia hora, quando a gente olha em volta e só vê fraldas e panos golfados, a gente acha que não vai dar conta, que não vai terminar nunca. E eu estranhava quando ouvia: "é assim mesmo, vai passar." Mas é verdade, meu amor, passou. Você cresceu, eu amadureci, aprendi um monte e o furacão cessou. E na minha loucura de maternidade, olho pra você, criança, hoje e tenho esse misto de orgulho e saudade. 

Muito provavelmente, daqui a algum tempo vou me lembrar dessa manhã fazendo bolo com você do meu lado bagunçando tudo e vou morrer de saudade também. E não tem felicidade maior pra mim, nesse momento, do que saber que estamos vivendo todas essas fases juntos e construindo deliciosas recordações. 

Eu te amo, filho.






sábado, 20 de fevereiro de 2016

Tudo novo de novo!

 
Oi, filho.

Essa semana estamos readaptando na escola.
Você saiu do berçário e foi pro Maternal 1. Outro prédio, outras pessoas, outra turma. 
Tudo novo de novo. 
E depois das férias em casa, grudadinho com a gente, está sendo difícil como imaginava que seria. 
Mas de alguma forma, tem algo de diferente.
Parece que um ano depois nós dois somos pessoas muito diferentes daquelas que passaram pela primeira adaptação.
Já estamos familiarizados com a escola. 
Já consigo me reconectar com o mundo lá fora quando você não está, já me reencontrei em outras funções, cresci, sobrevivi e me sinto bem mais segura.
Você também cresceu. Muito. Não só no tamanho. Na esperteza, na argumentação e no entendimento do que acontece ao seu redor. 
Todos os dias me surpreendo com nossas conversas, com sua memória, com as conexões que faz, com a sua capacidade de observação. 
Você se tornou um garotinho muito falante, divertido, que repete tudo que observa e aprende tudo que ensinamos. 
É verdade que tudo isso colabora pra que esse processo de adaptação seja diferente do ano passado, facilita nossas conversas e faz com que você tenha mais noção do que está acontecendo.
Estamos separados por menos tempo, você interage melhor com outras crianças, corre, brinca e se interessa por diversos estímulos oferecidos no ambiente escolar.
Sim, todos esses fatores podem estar tornando esse recomeço diferente daquele de um ano atrás.
Mas aquele momento da separação... Aquela hora em que me abaixo, te abraço e digo que volto depois... Essa coisa de despedida ainda não superamos. 
Talvez pela sua falta de noção de tempo. Talvez pela minha dificuldade em lidar com seu choro sentido, me chamando e pedindo pra ficar. 
Vai passar, eu sei. Em breve nos adaptaremos à nova rotina e tudo fica bem novamente.
Mas enquanto isso, sofremos. E choramos, sim.
De qualquer forma, estou muito orgulhosa de nós dois, meu amor. Pela nossa coragem, pelas nossas conversas, pelo feedback que tenho tido das profissionais que te acompanham, por ter sido forte todos esses dias e não ter deixado você me ver chorar em nenhum momento. Pela sinceridade que temos tratado todo o processo. 

Obrigada, meu amor, por me ensinar a ser forte, por me mostrar que entende, pelo sorriso largo quando chego pra te buscar, pelo abraço apertado quando nos reencontramos, pelas novidades que traz de tantas coisas novas que tem aprendido. 
Obrigada por me fazer ver que é difícil, sim, mas que pode ser mais leve com nosso amor.
Te amo, filho.






segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

2 anos!!!

Oi, meu amor.

Feliz aniversário!
Dois anos se passaram daquele dia que a gente se viu pela primeira vez. Consigo me lembrar com detalhes de tudo que vivemos naquele dia. Desde então, tanta coisa aconteceu...

É estranho porque às vezes tenho a sensação de que foi há muito tempo atrás e ao mesmo tempo, outras vezes parece que foi num piscar de olhos, de tão rápido.
Nesse ano, nossa vida continuou corrida, continuamos cansados, morrendo de preocupação, mas olha... foi TÃO DIVERTIDO, meu filho...

Não me canso de olhar pra você e me surpreender com o garotinho lindo, esperto e engraçado que você se tornou. Me apaixono, fico chata, repetitiva, e choro. Choro com aperto no peito de tanto amor quando olho pra você.

Esse ano você foi pra escola, ficou doentinho algumas vezes, caiu, brincou muito, foi ao teatro, ao cinema, a vários parques, festinhas, viajou, passeou, aprendeu MUITAS coisas novas.

O trabalho vai mudando, a gente vai se adaptando, crescendo e aprendendo junto com você. 

Completamos 2 anos de amamentação em livre demanda. Você nunca tomou nenhum outro leite, nenhum engrossante... Aprendi a fazer comidinhas saudáveis pra você. Evitamos industrializados, açúcar, embutidos e outras coisas que não são legais pra você, ainda tão bebê. E com isso aprendi a lidar com o estranhamento das pessoas, com meu rótulo de fresca, neurótica e chata. Aprendi a lidar e não ligo, não. É compreensível, falta informação, sobra publicidade da indústria alimentícia e todo mundo acha normal bebezinhos tomando coca-cola na mamadeira e se lambuzando de chocolate. Eu sorrio, finjo que não ouvi e deixo pra lá.

Completamos também 1 ano na escola. Foi sofrido no começo, né? Foi muito difícil a nossa separação, mas depois você se adaptou e fez muitos amigos. Socializou pra caramba, chamava amigos e tias pelo nome, cantava músicas, dançava e brincava. Essa experiência me fez entender aquele ditado que diz: "quem meu filho beija, minha boca adoça." Que maravilha é, meu amor, saber que você é querido, que foi bem cuidado, que estava feliz, cercado de pessoas preocupadas com o seu bem estar. Apesar de todo o processo de adaptação, foi muito positivo, além de toda socialização, teve muito aprendizado, você desenvolveu habilidades motoras, e desandou a falar!

Certamente de tudo que você desenvolveu esse ano, a fala foi o progresso mais significativo. É unânime, todo mundo comenta e se pergunta como pode um bebezinho que ainda não tinha completado 2 anos, travar diálogos com a pronúncia explicadinha e palavras complicadas... A gente se surpreende todos os dias com a forma como você conversa, com as perguntas que faz e com as coisas engraçadas que diz. Aprendemos a tomar cuidado com o que dizemos na sua frente porque está sempre atento, pronto pra repetir e sair usando por aí o que acabou de aprender. 

A gente morreu de preocupação nas vezes em que ficou doente. O contato com as outras crianças na escola é ótimo, mas também traz aquelas viroses nessa fase em que ainda estão desenvolvendo imunidade. Febre, tosse, dor de ouvido, noites acordadas, inapetência, colo e mamá. Muito mamá. Graças a Deus. É difícil ver você desanimadinho e tendo que tomar remédios, é tenso quando a gente não consegue identificar exatamente o que está acontecendo, mas a gente foi aprendendo a lidar aos poucos.  E nesses últimos meses as ocorrências foram bem mais raras. Você já é um rapazinho bem mais resistente.

Vez ou outra me pego presa num sentimento esquisito sobre o tempo. Parece que comemoro cada progresso, cada salto de desenvolvimento conforme você cresce e os meses passam e ao mesmo tempo queria poder parar tudo, congelar tantos momentos especiais que temos vivido nesses dois anos, acompanhando uma vidinha se desenvolvendo. Coisas que sei que não voltam mais, seu corpinho pequeno aninhado no meu colo, seu olhar de alegria com cada descoberta, aquele chorinho que só passa com mamá e tantas outros momentos que sofro de saudade só de pensar que já passaram.

Se eu fosse resumir todo esse segundo ano que vivemos, diria que ele foi bem mais leve e divertido. 
Meus dias com você são, muitas vezes, cansativos, bagunçados e corridos mas simplesmente apaixonantes. 
Você veio e tomou conta da minha vida. 
Mudou tudo e foi maravilhoso.


Você é a coisa mais bonita que eu já fiz, meu filho. 
O amor mais intenso.
A dor mais forte.
A alegria mais genuína.
Obrigada, Rafael, por esses dois anos.

Feliz aniversário.