segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sobre nossa amamentação


Oi, meu filho!
Escrevo pra te contar do nosso processo de amamentação, das dificuldades que enfrentamos e como está sendo bonita a nossa superação.
Durante toda a gestação li muito, aprendi muito sobre coisas do mundo da maternidade. Meus assuntos preferidos eram o parto e a amamentação. Amamentar pra mim era inquestionável e sempre tive certeza que o faria a qualquer custo. Descobri que, hoje em dia, amamentar não é mais o caminho natural de alimentação dos bebês, que boa parte das mamães oferecem leite artificial e boa parte dos pediatras o recomendam por diversos motivos, como pouco ganho de peso do bebê, dificuldades de pega, entre outros. 
Conheci, pela internet, várias histórias inspiradoras de mulheres que superaram as maiores dificuldades pra conseguir amamentar. Entendi que seria um desafio, que precisaria estar ciente de que os obstáculos viriam e eu não iria deixar me abater. Me sentia forte, determinada e teoricamente preparada pra superar tudo e amamentar você. Conversei muito com seu pai sobre isso, mostrava pra ele as histórias, os possíveis problemas e como resolvê-los e ele sempre esteve inteiramente do meu lado. Saber das dificuldades que virão parece que nos torna mais fortes pra enfrentá-las.
Na noite que passamos no hospital, as enfermeiras do berçário vinham me ajudar a te amamentar. Elas foram unânimes em afirmar duas coisas: eu já tinha bastante colostro e você não conseguia mamar porque meu bico do peito era plano. Era difícil pra mim tentar sozinha pela falta de mobilidade provocada pela anestesia, então elas vinham me ajudar. A maioria tentava por alguns minutos, e logo depois sacavam uma mamadeirinha com leite artificial (LA) do bolso do jaleco pra te dar. Quando vi a primeira fazer isso, já fiquei nervosa e pedi que te oferecessem no copinho. Ao longo da noite e no dia seguinte, foram várias tentativas, sempre com muita dificuldade e você acabou tomando três mamadeiras de LA nesse período.
No dia que saímos da maternidade, o pediatra que havia participado do seu parto veio dar sua alta. Veio com uma receita na mão, com algumas recomendações pra você, entre elas a prescrição de NAN, porque ele já tinha sido informado que eu não conseguiria amamentar por causa do meu bico plano. Disse que se eu quisesse tentar poderia comprar um bico de silicone na farmácia, mas que achava realmente muito difícil que eu conseguisse. Perguntei a ele sobre a possibilidade de conseguir ajuda em um banco de leite, ele fez cara de nojo e disse que desaconselhava porque não se sabia o nível de higiene desses lugares.
Fiquei muito nervosa, um pouco incrédula e ingênua, sei lá, acho que não me dei conta do que de verdade estava acontecendo. Eu sabia que o tal do bico de silicone era contra-indicado, que não me ajudaria em nada, mas ele insistiu e seu pai me pediu que tentasse, então concordei.
Fomos pra casa fadados ao fracasso, né? Bastaram dois dias mamando no bico de silicone pra vc ter a tal confusão de bicos, e tentava sugar meu peito posicionando a língua de forma errada, além de claro, meus mamilos já estarem completamente feridos. 
Na terceira noite minha ficha caiu. Você não mamava, chorava o tempo todo de fome e me desesperei. Pela manhã, num momento de estupidez, liguei para o tal pediatra, podia ser que ele desse alguma dica, podia ser que você tivesse algum problema mais sério de saúde que te impedisse de mamar. A voz do outro lado do telefone foi implacável: "Minha filha, ele está chorando de fome. Já deu o NAN pra ele? Dá logo, isso é assim mesmo, daqui a pouco seu peito seca e isso não é o fim do mundo."
Desliguei o telefone muda. Fui até o seu quarto e você dormia no colo do seu pai. Voltei pra sala. Seu pai percebeu que algo havia acontecido, te deitou no carrinho e veio atrás de mim. Chorei. Chorei desesperadamente, desconsolada, sem chão. Deitei no colo do seu pai no sofá e chorei por algum tempo. Até que ele me acalmou, disse que iríamos resolver. E eu precisava acreditar. 
O primeiro passo foi usar a bomba extratora que uma amiga querida havia me emprestado. Comecei tirando todo leite que podia. Passava o dia tirando leite e você tomava em um copinho. Era muito difícil, você ficava nervoso, chorava, o leite escorria e aproveitava muito pouco. Mas não desistimos. Tentamos vários formatos diferentes, foi bem desgastante durante mais alguns dias. Vivia grudada na bomba, tirando leite, chorava quando você chorava e seguia procurando ajuda. Buscava na internet algo ou alguém que pudesse nos ajudar. E você seguia com fome, chorando e perdendo peso.
Foi quando encontrei um portal - www.aleitamento.com - Nele encontrei o nome de um pediatra referência em aleitamento materno, doutor Marcus Renato. Liguei no mesmo dia e consegui marcar para o dia seguinte e foi aí que nossa história começou a mudar.
Cheguei no consultório, ainda andando com dificuldade pelas dores da cirurgia e com o coração apertado de angústia. O doutor Marcus Renato tem a voz doce, um semblante tranquilo, daquele tipo de pessoa que faz a gente se sentir a vontade no primeiro instante. Sentei, contei nossa história e chorei. Chorei mais uma vez e dessa vez encontrei acolhimento. Ele se levantou de trás da mesa, pegou toalhas de papel pra secar minhas lágrimas e esperou pacientemente que eu me tranquilizasse. Depois de me ouvir por um tempo, disse que primeiro examinaria você. E assim o fez, com calma, detalhadamente, fez todos os testes pertinentes e disse que você estava ótimo, apesar da perda de peso. Em seguida, pediu pra examinar meus seios. Olhou e disse que não havia problema nenhum, que eu não tinha nenhum impedimento para amamentar e que inclusive já tinha muito leite. Forrou meu colo com papel e ordenhou meu leite, das duas mamas. Quase não acreditei quando vi tanto leite jorrando pra todo lado. Olhei pro seu pai e nos emocionamos. Foi como se ele quisesse me mostrar o quanto eu podia, o quanto eu precisava acreditar que não tinha nenhum problema pra te amamentar. Então, ele nos disse que seria um trabalho de paciência, que mesmo mamando pouco você já estava recebendo anticorpos importantes nessa fase, que o ganho de peso viria com o tempo, que precisaríamos insistir, nos ensinou posições, como tentar a pega correta e como ordenhar o leite manualmente. O doutor Marcus Renato é desses médicos que a gente acha que nem existe mais, que olha pra gente enquanto fala, se importa, se preocupa. Talvez ele nem saiba o quanto foi importante na nossa história. Pediu que voltássemos na semana seguinte para te pesar novamente. Conversamos muito e saí de lá completamente diferente. Tive a segurança que precisava para continuar insistindo, o respaldo de que estava no caminho certo.
Foi só dois dias depois que conseguimos. Passava horas insistindo, com você no meu colo, até que naquela madrugada você pegou. Seu pai entrou no quarto e viu você grudado no meu peito, sugando com força e mais uma vez choramos juntos, de felicidade, de alívio e esperança. Foram 40 minutos... Que eu queria que durassem pra sempre. Quando você terminou, esticou a cabecinha pra trás, se espreguiçou demoradamente e adormeceu como quem tivesse comido uma feijoada. Nunca vou me esquecer dessa cena. 
Tentamos várias outras vezes depois, insistimos muito, em alguns momentos conseguíamos, comemorávamos, mas não conseguíamos engrenar de vez. Faltava alguma coisa e você continuava a perder peso. Nós ainda precisávamos de ajuda. 
Alguns dias depois, encontrei outra indicação de outra profissional também fundamental na nossa história, a Aline. A Aline é uma fonoaudióloga, especialista em amamentação. Seu pai ligou pra ela e ela veio no mesmo dia, alguma horas depois. Lembro como se fosse hoje, chegou por volta das 20h, com um vestido branco, um jeito firme e suave ao mesmo tempo. Contei novamente nossa história, chorei mais uma vez e ouvi ela dizendo: "Chora, querida, chora que o leite jorra." Agradeci a Deus por mais um anjo que ele havia me mandado e entendi que precisava acreditar. Depois de me ouvir, me entender, me confortar, a Aline nos ajudou no que era mais urgente: matar sua fome. Não conseguiríamos que você pegasse meu peito com tranqüilidade enquanto você estivesse faminto e nervoso. Então ela nos ensinou uma técnica em que oferecíamos meu leite pra você em um potinho através de uma sonda amarrada no dedo. Você sugava nosso dedo e tomava o leite como em um canudo. Feito isso você se acalmou, e ela pediu que tirasse a almofada de amamentação, sua roupa e qualquer outro pano que impedisse nosso contato. Posicionou você, pegou meu peito e encaixou na sua boca, como numa mágica e fez você mamar. A gente mal podia acreditar. Tentamos mais algumas vezes e você ia aprendendo aos poucos. Enquanto você mamava, conversamos muito, ela nos contou várias histórias, e descobrimos que temos uma amiga em comum no céu. Uma amiga que bem provavelmente intercedeu por nós e fez com que a gente se encontrasse. Foi muito emocionante. Aline me garantiu que a gente conseguiria, em alguns dias ou semanas, mas tudo ficaria bem. E assim foi. Ela voltou aqui em casa mais duas vezes, quando a gente se descontrolava e porque você ainda não pegava o peito esquerdo. Sem ela não teríamos conseguido.
Mais dias se passaram, eu e você grudados, tentando, e seu pai comemorando com a gente cada vez que conseguíamos. Nesse tempo eu quase não conseguia falar com ninguém. Me sentia frágil, emotiva e tinha dificuldade pra tocar no assunto. Três pessoas muito especiais me incentivaram, com mensagens simples, mas fundamentais quando a gente pensa em desistir, mensagens que diziam: "é assim mesmo, uma hora ele pega, não desista!" (Obrigada, Roberto, Andrea e Dani)
E aí, meu filho, como quem acaba de subir uma montanha bem alta, nós conseguimos. 
Você foi pegando com mais freqüência, eu entendi melhor como funcionava, sua boquinha foi crescendo e pegando o jeito. Sua pega foi ficando cada vez mais certinha. Passamos ainda alguns dias de adaptação com meu peito bem machucado, mas agora já não me importava, sabia que esse era o caminho certo.
Hoje você já tem três meses e mama em livre demanda, em várias posições, em qualquer lugar. Ganhou peso além do esperado, cresceu 13cm e fica cada dia mais lindo.
Queria muito que todas as mamães que enfrentam dificuldades na amamentação pudessem ter o apoio como tive do seu pai, tivessem acesso a profissionais como o doutor Marcus Renato e a Aline, e que contassem com o incentivo de amigos como os meus.
Que bom que a gente conseguiu, meu filho, e fortalecemos nossa família pra enfrentar as próximas dificuldades. 
Nós te amamos, filho.

5 comentários:

  1. Querida Renata,
    Me emocionei!
    Fico imensamente feliz por ter participado de sua história. Você, Rafael e Cristiano são os atores principais.
    Obrigada pelo carinho, pela confiança e pelo lindo relato!! A acolhida agora fui eu!
    Seja feliz!!!!!!
    Beijo no coração!

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  2. Querida Renata,
    Parabéns pela coragem, pela determinação, por essa linda família!
    Valeu a pena o esforço e fico feliz de ter contribuído para a amamentação mais prazerosa e ver o Rafael crescendo e se desenvolvendo tão bem.
    Beijão,
    Marcus Renato
    www.aleitamento.com

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  3. Lindo relato e emocionante. Parabéns pela perseverança. E se todos os maridos soubessem como o apoio deles e fundamental nesse momento... Lindo ver a evolução do seu bebe e orgulho em saber q foi vc que proporcionou isso a ele

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  4. Rê, demorei um pouco para ler, apesar do tempo, 4 anos passados, ainda me encontro bastante emotivo...rs, linda sua história, fico feliz que como nós, vocês tiveram força para continuar tentando, aqui foram 20 dias de sonda pra Juju até que, com a ajuda da nossa "anjo" em comum aline, a Juju finalmente conseguiu.
    Sempre que precisar de um papo ou uma palavra amiga sobre essas pequenas criaturas q nos fazem rir e chorar o tempo todo só chamar, ficarei feliz em ajudar no que for possível.
    Bjs
    Romer Z Alves

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  5. Renata, estive aqui, lindo seu blog, fortes vivências

    felicidades, grande abraço! Relva / Pediatria Radical

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