Era madrugada do dia 18. Por volta de 05h acordei, fui ao banheiro e vi
que havia perdido o tampão mucoso. Acordei seu pai e falei com ele. Nos
abraçamos em silêncio e deitamos. Logo depois as contrações vieram. Fracas e
espaçadas ainda, mas agora eu tinha certeza que havia começado de verdade. Você
estava pronto pra chegar.
Já tinha uma semana que estava com 2cm de dilatação e contrações de
treinamento cada vez mais fortes. Mas agora sentia a barriga dura e aquela onda
de dor que vinha das costas pra barriga e passava. Começamos a cronometrar o
intervalo e duração.
O dia amanheceu, tomamos café e uma ansiedade boa tomou conta da gente.
Seu pai queria logo ligar para o médico, mas eu sabia que ainda era cedo e que
precisava esperar contrações mais fortes e frequentes. O tempo foi passando, e
eu procurava uma posição confortável a cada onda que vinha, depois deitava no
sofá enquanto seu pai me fazia cafuné.
Por volta das 14h resolvemos ligar para o obstetra, e ele, como já
imaginávamos, pediu que fossemos para a maternidade.
Então, seu pai e eu fomos para o seu quarto e conversamos com você.
Dissemos o quanto estávamos felizes pela sua chegada, pedimos que ficasse
tranquilo que estaríamos esperando você com muito amor aqui fora e que tudo
daria certo. Rezamos juntos, pedimos a intercessão de Maria e a proteção de
Jesus em todo o processo. E que a nossa família fosse abençoada.
Tomei um banho demorado e saímos.
Quando chegamos no hospital, fui examinada pela obstetra do plantão. Ela
constatou 3cm de dilatação, colo apagado, bebê encaixado. Olhou pra mim, sorriu
e disse: "Chegou a hora!" Nem sei descrever a felicidade que senti
nessa hora. Seu pai me olhou e choramos juntos. Aquele momento que eu tanto
quis estava acontecendo e as dores fortes das contrações não chegavam nem perto
da emoção que tomava conta de mim.
Minha internação foi providenciada, ligamos para a família e para alguns
amigos mais próximos.
Algumas horas depois, já no quarto, curtindo as contrações, procurando
posições mais confortáveis e nosso médico chegou. E foi aí que perdi nosso
parto...
Ele me examinou, disse que passadas tantas horas eu ainda estava com 3cm
de dilatação e que você ainda não tinha encaixado completamente e que a médica
do plantão havia feito uma avaliação equivocada. Sendo assim, eu tinha duas
opções: voltar pra casa e esperar a dilatação e rezar pra você descer mais ou
fazer uma cirurgia para te tirar. Meu coração ficou apertado, senti uma
tristeza e um fracasso. Sabia que seu pai não aceitaria voltar pra casa aquela
altura e me vi na situação que mais queria evitar durante toda gestação.
Chorei. De tristeza, de nervoso, de medo, de impotência... Queria muito ter você
nos meus braços, lindo e saudável. Mas não daquela forma. Ouvi todas aquelas
besteiras da família, aquela coisa de "o importante é que ele chegue bem,
não faz diferença a forma que vem, já tava passando da hora, você não ia
aguentar mesmo..."
Rezei. Pedi que Jesus me acalmasse e me desse serenidade pra te receber
logo e que tudo acabasse rápido.
Seu pai foi para o centro cirúrgico, e eu fui levada na maca logo
depois.
Todo o processo que se deu em seguida não merece descrição. Não pra
você, meu filho. Pra você, guardo o momento em que abaixaram o pano azul e te
vi nas mãos do médico. Agradeci a Deus, olhei para o seu pai ali do meu lado,
segurando meu rosto e chorando junto comigo. Logo depois te trouxeram
embrulhadinho e te colocaram no meu colo. Ali estávamos nós três. Nossa família
formada e o maior amor do mundo. Queria muito ter te amamentado ali, ter
passado mais tempo com você e com seu pai. Mas logo te levaram novamente, para
execução dos procedimentos conforme o padrão da maternidade. Seu pai te
acompanhou e eu fiquei ali, vivendo outros momentos que também vou te poupar de
saber.
Muito tempo depois, não sei quanto tempo, me levaram de volta para o
quarto e pedi que chamassem seu pai. Depois soube que estavam lá também
seus quatro avós, sua tia Daniele e seu tio André, sua tia Flavia e sua
madrinha Juliana.
Enquanto me recuperava da anestesia, esperava ansiosa te trazerem de
volta pra mim. Separaram a gente por um tempo, novamente por procedimento padrão
do hospital, desculpa meu filho.
Mais tarde você chegou, trazido pela enfermeira do berçário. Uma
lindeza. Deitou na cama comigo porque eu não podia ainda levantar, anestesiada.
Nos conhecemos, nos olhamos ainda sonolentos, mas cheios de amor. Você tentou
mamar um pouquinho, mas tava difícil e apesar da posição ruim ainda conseguiu
tomar um pouquinho de colostro.
Seu pai e eu passamos a noite acordados. Não porque você chorou. Você
dormiu bem tranquilo... Mas estávamos extasiados, felizes, tensos e dormir
parecia impossível. Passamos a noite te olhando, observando cada movimento e
ouvindo cada barulhinho.
Foi assim que nossa família nasceu, meu filho. Foi nesse dia que viramos
três e nosso amor se multiplicou. A gente ainda nem sabia o quanto, mas foi
depois desse dia que nossa vida mudou completamente.
Que bom que você veio, Rafael.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLembro bem desse dia, foi lindo e emocionante ver o Cris aparecendo com o Rafael.
ResponderExcluirVocês são uma família muito especial e abençoada e merecem ser muito felizes. Rafael chegou para aumentar ainda mais o amor de vocês e o meu amor por essa família linda.